segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

No Teatro Dona Maria II

 Foram momentos animadíssimos, percorrendo os espaços do Dona Maria II e assistindo ao espectáculo "A Visita", que é, da facto, uma iniciativa a não perder!
Aqui fica a reportagem...
 
 A capa do Programa de "A Visita", com a foto do Teatro.

 O João, Braima, Carlos Sousa, Isabel Vieira e Vanda Macedo junto dos adereços.

 O Carlos aproveitando a mesa da personagem "Pingas", o chefe de claque...

 Com a Sónia e o Mário, antes do espectáculo começar...
 Mal sabia a Isabel que iria carregar com o tijolo...

  O cartão de visita do Pãozinho, o eterno conquistador...

Já à saída, uma imagem do nosso lindo grupo: gente muito bonita!!!!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Álvaro de Campos


Trabalho de Almada Negreiros, FLUL

Nasceu em Tavira às 13h30m do dia 15 de Outubro de 1890 e teve uma educação vulgar de liceu. Um tio beirão, que era padre, ensinou-lhe Latim.Na Escócia, em Glasgow, estudou engenharia mecânica e naval. Duma viagem ao Oriente resultou o “Opiário”.
É alto, magro, com cabelo liso apartado ao lado e usa monóculo.


Álvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente “um impulso para escrever”. O próprio Pessoa considera que Campos se encontra no «extremo oposto, inteiramente oposto, a Ricardo Reis” apesar de ser, como este, um discípulo de Caeiro.
Campos é o filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte, tentando integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir.
Este heterónimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a «sensação das coisas como são»: procura a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.
Engenheiro naval e viajante Álvaro de Campos  exalta, em tom futurista, a civilização moderna e os valores do progresso.
Cantor do mundo moderno, o poeta procura incessantemente “sentir tudo de todas as maneiras”, seja a força explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. “Poeta da modernidade”, Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adoptando sempre o ponto de vista do homem da cidade.

O trabalho poético de Campos compreende três fases:

. DECADENTISTA (“Opiário”)

- Exprime o tédio, o enfado, o cansaço, a náusea, o abatimento e a necessidade de novas sensações;
- traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia;
- marcado pelo romantismo e simbolismo (rebuscamento, preciosismo, símbolos e imagens);
-   abulia, tédio de viver;
-   procura de sensações novas;
-   busca de evasão;
- refúgio no ópio.

. FUTURISTA/SENSACIONISTA

Nesta fase, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atracção quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. 
Campos apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são o exemplo desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão pela máquina há a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e moral da vida moderna.

- celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna;
- apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina;
- exalta o progresso técnico, a velocidade e a força;
- a procura da chave do ser e da inteligência do mundo torna-se desesperante;
- canta a civilização industrial;
- recusa as verdades definitivas;
- introduz estilisticamente na linguagem poética a terminologia do mundo mecânico, citadino e cosmopolita;
- intelectualiza as sensações
- a sensação é tudo
- procura a totalização das sensações: sente a complexidade e a dinâmica da vida moderna e, por isso, procura sentir a violência e a força de todas as sensações – “sentir tudo de todas as maneiras
- cativo dos sentidos, procura dar largas às possibilidades sensoriais;
- tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir;
- exprime a energia ou a força que se manifesta na vida;
- os versos são livres, vigorosos, submetidos à expressão da sensibilidade, dos impulsos, das emoções através de frases exclamativas, de apóstrofes, onomatopeias e oxímoros.

·        Futurismo
-   elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!” na Ode Triunfal);
-   ruptura com o subjectivismo da lírica tradicional;
-   transgressão da moral estabelecida.

·        Sensacionismo
-   vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as maneiras”);
- sadismo e masoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente,/ tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões...”, na Ode Triunfal);
-   cantor lúcido do mundo moderno.

. PESSIMISTA
  
Perante a incapacidade das realizações, regressa o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço, /íssimo, íssimo, íssimo, /Cansaço…”. Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. (“Esta velha angústia”, em “Lisbon revisited”).
O drama de Álvaro Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da própria humanidade; é uma espécie de frustração total feita de incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e mundo interior. Revela, como Pessoa, a mesma inadaptação à existência e a mesma demissão da personalidade íntegra, o cepticismo, a dor de pensar e a nostalgia da infância.

- É caracterizada pelo sono, cansaço, desilusão, revolta, inadaptação, dispersão, angústia, desânimo e frustração;
- face à incapacidade das realizações sente-se abatido, vazio, um marginal, um incompreendido;
- frustração total: incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e interior;
-   dissolução do “eu”;
-   a dor de pensar;
-   conflito com a realidade;
-   cansaço, tédio, abulia;
-   angústia existencial;
-   solidão;
-   nostalgia da infância irremediavelmente perdida (“Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”, em "Aniversário")

ESTILO:
-   verso livre, em geral, muito longo;
-   assonâncias, onomatopeias e aliterações, por vezes ousadas;
-   grafismos expressivos;
-   mistura de níveis de língua;
-   enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação emotiva;
-   desvios sintácticos;
-   estrangeirismos, neologismos;
-   construções nominais, infinitivas e gerundivas
-   metáforas ousadas, oxímoros, personificações, hipérboles;

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio...


Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
    (Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
    Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
    E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
    E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
    Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
    Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
    Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
    Pagã triste e com flores no regaço.





O poema pode dividir-se em três partes lógicas:
  • 1ª.: Desejo epicurista de fruir o momento presente (1ª. e 2ª. estrofes):
    Mais do que da emoção de contemplar a natureza, a atitude amorosa resulta da interpretação dela como símbolo de fugacidade, interpretação que a razão comanda, revestindo o amor de uma gélida frieza, pelo calculado e pensado sentido que retira toda a espontaneidade ao mais simples gesto de ternura;
  • 2ª.: Renúncia ao próprio gozo desse fugaz momento que é a vida (3ª. a 6ª. estrofes):
    É nítido o afrouxar do impulso amoroso, a tal ponto que, do gozo do momento presente, mais não fica que uma contida emoção que aos poucos se anula para terminar numa atitude de quase indiferença e de irremediável incomunicabilidade. E mais uma vez essa recusa é símbolo mais amplo de um desencantado viver, que nega qualquer paixão mais forte e todo o esforço impotente para alterar a força do destino .
  • 3ª.: Explicação dessa renúncia como única forma de anular o sofrimento causado pela antevisão da morte (7ª. e 8ª. estrofes):
    Esse ideal de ataraxia que Reis bebeu em Epicuro (e que não contém outro prazer além da ausência de dor) é o remédio ilusório para a obsessão da morte que, no final do poema, ele antevê e disfarça em eufemísticas perífrases clássicas, mas que soa ininterruptamente em Reis como um dobre a finados. E é exactamente para superar a morte, ou superar-lhe pelo menos o cortejo de sofrimento e a saudade que a acompanha, que ele opta por essa vivência atrás definida, que nada deixe que se lamente ou se deseje.
    O rio, que sugere passagem e morte. 
  •  O "barqueiro sombrio" é Caronte que, na mitologia grega, transportava as almas dos mortos que tinham sido incinerados ou enterrados através dos rios infernais (o Estige ou o Aqueronte), mediante um óbolo (pequena moeda grega), que a família do defunto Ihe colocava na boca para pagar a passagem.
  • O ritmo lento, pausado e plangente é sugerido pela pontuação, pelos advérbios de modo sossegadamente (duas vezes), silenciosamente, sem desassossegos grandes, tranquilamente e pelo uso de sons fechados e nasais.
  • Palavras negativas ou de conotações pessimistas: "A vida passa" (duas vezes) = nada deixa = nunca regressa = vai; passar = correr; passamos; "sempre correria" = "sempre iria ter à..."; não (cinco vezes); nada (três vezes); sem (três vezes); nunca (duas vezes); nem (seis vezes); "muito longe", "mais longe que os deuses"; sempre (duas vezes utilizada para traduzir a passagem inexorável do tempo); "Pagãos inocentes da decadência", "Pagã triste".
  • A enumeração: "Sem amores, nem ódios, nem paixões (...) Nem invejas (...) Nem cuidados". A comparação: "passamos como o rio".
  • O eufemismo (atenuação do grau de violência ou do carácter trágico duma palavra ou expressão) está presente na perífrase "levar o óbolo ao barqueiro sombrio" e ainda em "se for sombra antes" (= se eu morrer antes).

Ricardo Reis

                                                                          
Nasceu no Porto em 1887  e foi educado num colégio de jesuítas. É médico. Monárquico, exilou-se no Brasil em 1919 depois da tentativa frustrada de Paiva Couceiro para reinstalar o regime.
Tem interesse pela cultura Clássica, grega e latina.
Fisicamente é  "um pouco mais baixo, mas forte, mais seco do que Caeiro, de um vago moreno e cara rapada".
Heterónimo de Fernando Pessoa, é o poeta clássico da serenidade epicurista que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio”, “Prefiro rosas, meu amor, à pátria” ou “Segue o teu destino” são poemas que nos mostram que este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das emoções e sentimentos mas defende, sobretudo, a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação.
A sua filosofia é a de um epicurismo triste pois defende o prazer do momento, o “carpe diemcomo caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade. Propõe, pois, uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia estóica:
- “Carpe diem” (aproveitai o dia), ou seja, aproveitai a vida em cada dia, como caminho da felicidade;
- Buscar a felicidade com tranquilidade (ataraxia);
- Não ceder aos impulsos dos instintos (estoicismo);
- Procurar a calma, ou pelo menos, a sua ilusão;
- Seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade (sobre esta apenas pesa o Fado).
Ricardo Reis cultiva um neoclassicismo neopagão (crê nos deuses e nas presenças quase divinas que habitam todas as coisas), recorrendo à mitologia greco-latina, e considera a brevidade, a fugacidade e a transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é efémero. Daí fazer a apologia da indiferença solene frente ao poder do destino inelutável. Considera que a verdadeira sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena, “sem desassossegos grandes”.
A precisão verbal e o recurso à mitologia, associados aos princípios da moral e da estética epicuristas e estóicas ou à tranquila resignação ao destino, são marcas do classicismo erudito de Reis. Poeta clássico da serenidade, privilegia a ode. A frase concisa e a sintaxe clássica latina, frequentemente com a inversão da ordem lógica (hipérbatos), favorecem o ritmo das suas ideias lúcidas e disciplinadas.
A filosofia de Reis rege-se pelo ideal “Carpe Diem” – a sabedoria consiste em saber-se aproveitar o presente, porque se sabe que a vida é breve. Há que nos contentarmos com o que o destino nos trouxe. Há que viver com moderação, sem nos apegarmos às coisas e, por isso, as paixões devem ser comedidas, para que a hora da morte não seja demasiado dolorosa.

Um grupo de AMIGOS

Aqui ficam fotos de alegria e Amizade sincera entre colegas do 12º SHN.
Um abraço a todos!









terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Poema Décimo

 
 "Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?"
"Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?"
"Muita coisa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras coisas
De memórias e de saudades
E de coisas que nunca foram".
"Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti".

                                                           Alberto Caeiro

 O texto apresenta um diálogo entre o guardador de rebanhos e um interlocutor. Um e outro manifestam o seu ponto de vista acerca do vento que passa, que é o mesmo que dizer acerca de tudo o que passa, das coisas que passam (o vento, como um dos elementos da natureza que maior mobilidade possui).
O guardador de rebanhos encontra-se à beira da estrada (v.2). Para ele, o vento é apenas o vento, passa como passou antes e passará depois (vv.5, 6) e nada mais. 
O interlocutor, que é quem coloca a questão ao guardador de rebanhos, responde que para si o vento é "muito mais do que isso" (v.8); "fala-lhe de muitas outras coisas" (v.9), "de memórias e de saudades/E de coisas que nunca foram" (vv.10-11). Para o guardador de rebanhos, o interlocutor nunca ouviu passar o vento, dentro dele está a mentira - já que ele não vê nas coisas as próprias coisas, mas vai muito mais além.
A sinceridade estará em verem-se as coisas tais como são, na sua naturalidade, sem se buscarem segundos sentidos.
Pelas posições que um e outro assumem, poderemos ver no guardador de rebanhos o Mestre e no seu interlocutor o discípulo. O discípulo que interroga o Mestre e o Mestre que ensina o discípulo.
Como é regra em Caeiro, estamos neste texto em presença do verso livre e branco, do tom discursivo próprio da linguagem coloquial, da estrutura livre (aqui um terceto e três quadras), do vocabulário simples recorrendo  a repetições,  da personificação dos elementos da Natureza (do vento, que é colocado em relevo como participante de destaque do mundo natural em que o pastor vive).

Alberto Caeiro


 Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos”, que só se importa em ver de forma objectiva e natural a realidade, com a qual contacta a todo o momento. Daí o seu desejo de integração e de comunhão com a Natureza.
Para Caeiro, “pensar” é estar doente dos olhos. Ver é conhecer e compreender o mundo: pensa, vendo e ouvindo. Recusa o pensamento metafísico, afirmando que “pensar é não compreender”. Elimina, assim, a dor de pensar  de Fernando Pessoa.
Caeiro é o poeta da Natureza, de acordo com ela e vendo-a na sua constante renovação. E porque só existe a realidade, o tempo é sem passado, presente ou futuro, pois todos os instantes são a unidade do tempo.
Mestre de Pessoa e dos outros heterónimos, Caeiro dá especial importância ao acto de ver, mas é sobretudo inteligência que discorre sobre as sensações, num discurso em verso livre, em estilo coloquial e espontâneo. Passeando a observar o mundo, personifica o sonho da reconciliação com o universo, com a harmonia da Natureza.
É um sensacionista a quem só interessa o que capta pelas sensações e a quem o sentido das coisas é reduzido à percepção da cor, da forma e da existência: a intelectualidade do seu olhar volta-se para a contemplação dos objectos originais. É o poeta da Natureza e do olhar, o poeta da simplicidade completa, da objectividade das sensações e da realidade imediata (“Para além da realidade imediata não há nada”), negando mesmo a utilidade do pensamento.
Vê o mundo sem necessidade de explicações, sem princípio nem fim, e confessa que existir é um facto maravilhoso; por isso, acredita na “eterna novidade do mundo”. Para Caeiro o mundo é sempre diferente, sempre múltiplo; por isso, aproveita cada momento da vida e cada sensação na sua originalidade e simplicidade.
Para Caeiro fazer poesia é uma atitude involuntária, espontânea e de impressões, sobretudo visuais, porque recusa a introspecção, a subjectividade. É o poeta do real objectivo.
Canta o viver sem dor, o envelhecer sem angústia, o morrer sem desespero, o combate ao vício de pensar, o ser uno, não fragmentado.

·O seu  discurso poético possui características oralizantes: vocabulário corrente, simples, frases curtas, repetições, frases interrogativas, recurso a perguntas e respostas, reticências;
·  Faz a apologia da visão como valor essencial;
·  Estabelece a relação de harmonia com a Natureza;
·  Rejeita o pensamento, os sentimentos e a linguagem porque desvirtuam a realidade (a nostalgia, o anseio, o receio são emoções que perturbam a nitidez da visão de que depende a clareza de espírito)