terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Mensagem


Mensagem
A Mensagem, cujas poesias foram escritas entre 1913 e 1934 (data da sua publicação) é, sem dúvida, a obra-prima onde Pessoa imprimiu o seu ideal patriótico, sebastianista e regenerador. É um poema nacional, uma versão moderna, espiritualista e profética de Os Lusíadas.
   A Mensagem poderá ser vista com uma epopeia, porque parte dum núcleo histórico. Aqui, a acção dos heróis só adquire pleno significado dentro duma referência mitológica. Aqui serão só eleitos, terão só direito à imortalidade, aqueles homens e feitos que manifestam em si esses mitos significativos. Os antepassados, os fundadores que pela sua acção criaram a pátria e ergueram a personalidade; as Mães cantadas como “Antigo seio vigilante”, ou “humano ventre do império”; os heróis navegantes, aqueles que percorreram o mar em busca do caminho da imortalidade, cumprindo um dever individual e pátrio (realização terrestre duma missão transcendente); e, finalmente, depois dessa missão cumprida, dessa realização, os profetas, as vozes que anunciam já aquele que viria regenerar essa pátria moribunda, abrindo-lhe novo ciclo de vida, uma nova era – o Encoberto.
   É uma obra épico – lírica pois, como uma epopeia, parte de um núcleo histórico (heróis e acontecimentos da História de Portugal), mas apresenta uma dimensão subjectiva introspectiva, de contemplação interior, característica própria do lirismo.

A estrutura da obra
A estrutura da Mensagem transfigura e repete a história duma pátria como o mito dum nascimento, vida e morte dum mundo, morte que será seguida dum renascimento. O poeta desenvolve a obra como uma ideia completa, de sentido cósmico, dando-lhe a forma simbólica tripartida: Brasão, Mar Português e O Encoberto. Esta forma tripartida poder-se-á traduzir como: os fundadores, ou o nascimento; a realização, ou a vida; o fim das energias latentes, ou a morte; mas essa conterá já em si, como gérmen, a próxima ressurreição, o novo ciclo que se anuncia – o Quinto Império. Assim, a terceira parte é toda ela cheia de avisos, pressentimentos, forças latentes prestes a virem à luz: depois da Noite e da Tormenta, vêm a Calma e a Antemanhã: estes são os Tempos. E aí sempre perpassará, embora em modelações diversas, a nota da esperança: D. Sebastião, O Desejado, O Encoberto… É dessa forma, o mítico caos, a noite, o abismo, donde surgirá o novo mundo, “Que jaz no abismo sob o mar que se segue”.
                                                            Sebastianismo
  A Mensagem apresenta um carácter profético, visionário, pois antevê um império futuro, não terreno, e ansiar por ele é perseguir o sonho, a quimera, a febre de além, a sede de Absoluto, a ânsia do impossível, a loucura. D. Sebastião é o mais importante símbolo da obra que, no conjunto dos seus poemas, se alicerça, num sebastianismo messiânico e profético.
                                               Quinto Império: império espiritual
   É esta a mensagem de Pessoa: a Portugal, nação construtora do Império no passado, cabe construir o Império do futuro, o Quinto Império. E enquanto o Império Português, edificado pelos heróis da Fundação da nacionalidade e dos Descobrimentos é terreno, material, o Quinto Império é espiritual: “E a nossa grande raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo que os sonhos são feitos…  A Mensagem contém, pois, um apelo futuro.
                                                A estrutura
       A Mensagem está dividida em três partes, que correspondem a três momentos do Império Português: nascimento, realização e morte. Mas essa morte não é definitiva, pois pressupõe um renascimento que será o novo império, futuro e espiritual.
1. Nascimento – 1ª Parte “Brasão”
Fundação da nacionalidade, desfile de heróis lendários ou históricos, desde Ulisses a D. Afonso Henriques, D. Dinis ou D. Sebastião.
2. Realização – 2ª Parte “Mar Português”
Poemas inspirados na ânsia do Desconhecido e no esforço heróico da luta com o mar. Apogeu da acção portuguesa dos Descobrimentos, em poemas como “O Infante”, “O Mostrengo”, “Mar Português”.

3. Morte – 3ª Parte “O Encoberto”
Morte das energias de Portugal simbolizada no “nevoeiro”; afirmação do sebastianismo representado na figura do “Encoberto”; apelo e ânsia messiânica da construção do Quinto Império.

Sem comentários:

Enviar um comentário