terça-feira, 18 de janeiro de 2011

"O Mostrengo"




 A acção deste poema é passada numa viagem de nau, nomeadamente no Cabo das Tormentas, durante uma noite escura. Nessa viagem os tripulantes são confrontados com um Mostrengo que está no fim do mar e pretende atemorizar os portugueses para que não continuem a sua viagem. O monstro questiona a sua tripulação, ficando assim a saber que eram portugueses e vinham para conquistar os mares, não abdicando da sua missão.
O Mostrengo é caracterizado directamente por dois adjectivos: “imundo e grosso” e indirectamente pelas suas acções, pois realiza movimentos circulares intimidadores e sitiantes. Também sabemos que vive em cavernas que ninguém conhece.
A palavra Mostrengo é composta por sufixação monstro + engo (radical + sufixo). O sufixo tem um valor pejorativo. Mostrengo significa uma pessoa muito feia, desajeitada.
Às interpelações do Mostrengo (1º e 2º estrofes), o homem do leme começa por responder assustado, apenas com uma frase que invoca a autoridade do rei intimidado pelo tom aterrador das palavras e pelo ambiente que o circunda. Porém na 3ª estrofe, consciencializando-se que não é apenas ele, “o homem do leme” quem ali está, assume-se como símbolo do povo e responde em 6 versos com convicção e força.
O Mostrengo simboliza os medos dos navegadores que enfrentam o desconhecido. O homem do leme é a figura do herói mítico, símbolo de um povo e que, portanto, passa de herói individual a colectivo, com uma missão a cumprir.
O número 3 é um número da perfeição, da unidade divina; a totalidade a que nada mais pode ser adicionado. Simboliza a Criação, a natureza tríplice de Deus (Pai, Filho e Espírito Santo), o desenvolvimento ordenado e harmonioso do Universo, a síntese espiritual, os três ciclos de vida: nascimento, apogeu, morte, a composição do Homem (corpo, alma, espírito). Três são as estrofes do poema e três um número que paira sobre o poema como uma sombra de misticismo, como que dizendo que mesmo nas puras acções de coragem há a presença do divino ou, pelo menos, do conhecimento oculto. Isto significa que mesmo na mais simples das acções há destino, que nunca pode ser negado, quer no homem quer na Natureza. O pobre homem do leme ou o Mostrengo são armas de um poder maior do que eles mesmos.
Neste poema as frases declarativas estão ao serviço da narração e em parte do discurso do “homem do leme”; as frases interrogativas estão presentes no discurso do Mostrengo e a frase exclamativa consta também do discurso do “homem do leme”.

Sem comentários:

Enviar um comentário