terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O menino de sua Mãe

 
Este poema em seis estrofes de cinco versos (quintilhas), de versos regulares de 6 sílabas e rimados -esquema abaab- que se repete nas diferentes quintilhas, ainda que com rimas diferentes - destoa um pouco no conjunto do Cancioneiro por, aparentemente, abordar um tema social - o da guerra e dos jovens injustamente roubados à idade ("Agora que idade tem?"), às mães e às velhas amas, à infância, afinal. 
Trata-se, efectivamente, de um poema de base narrativa, com narrador - o poeta; narração de uma história; acção - a morte na guerra; personagens; espaço - plaino abandonado/lá longe, em casa; e tempo - passado. 
O narrador é subjectivo, visto emitir juízos de valor sobre o que conta e até sobre os motivos desta morte prematura. Em todo o caso, naturalmente que aqui, sob forma narrativa, se transmitem sentimentos (mesmo que "fingidos" no sentido de fingimento pessoano), emoções, ideias - logo, expressão do Eu, lirismo.
Nas duas primeiras quintilhas conta-se, descreve-se a situação vivida pelo protagonista e também se faz o retrato da personagem no momento actual. A descrição é feita em termos realistas,  como convém a quem quer fazer ver.
Nas estrofes seguintes, predomina a emoção, o discurso judicativo ou valorativo. O jovem, cuja juventude e perda dela são referidas em frases exclamativas, que já não tem idade (como se refere entre parênteses - discurso parentético que realça a mensagem nele contida) é, afinal, "filho único", cujo nome é, por vontade materna, O menino da sua mãe - é um menino-símbolo de uma mãe-símbolo: ambos personagens colectivas. 
Regressa-se nas 4ª e 5ª quintilhas à descrição e à emoção: a cigarreira breve, símbolo do que não morre, do que fica de uma vida, essa sim, breve (hipálage); o lenço bordado dado pela criada velha/que o trouxe ao colo.
A última quintilha lança um olhar sobre o espaço familiar: "Lá longe, em casa, há a prece:/"Que volte cedo e bem!" Só que a prece é, sem que lá em casa o saibam, inútil, agora que "o menino da sua mãe" 'jaz morto e apodrece" (este verbo substitui e intensifica o realismo do arrefece da 1ª estrofe). 
Pelo meio, novo discurso parentético que aponta subtilmente a causa que está por detrás desta morte prematura (Malhas que o Império tece!), ou seja, hoje e sempre, as vítimas que o desejo de Impérios faz.



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